domingo, 22 de fevereiro de 2015

Para os novos leitores, um velho e adorável sentimento

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O ano é 2050. Ou pode ser 2100, a seu critério. Imagine alguém em algum canto do mundo, talvez numa metrópole europeia, numa vila no interior da Ásia, ou quem sabe na sua cidade aqui mesmo, no Brasil. Esse alguém vai iniciar a leitura de um livro, pelo qual vai se apaixonar perdidamente. É bem provável que o livro em questão fosse, caso presumamos que esse alguém seja muito jovem, o primeiro que lerá na vida. E as palavras com as quais ele se inicia são “O Sr. e a Sra. Dursley, da Rua dos Alfeneiros, nº 4…”.
Posso desejar a esse jovem uma série de coisas. Em 2050 provavelmente ainda estarei vivo – serei um velhinho bem simpático, espero. Conhecendo ou não o nosso iniciante, espero apenas que ele possa viver toda esta magia como eu vivi, que ele possa virar cada página sentindo as mesmas emoções e o mesmo intenso prazer que eu senti quando lia cada um dos volumes da série pela primeira vez, e pela segunda, e pela terceira…
Espero também que Harry Potter passe a esse jovem as mesmas lições que passou a mim, de tolerância, retidão moral, amizade, compaixão, e que todas elas influenciem positivamente na formação de seu caráter. Desejo que esse garoto ou essa garota veja a segregação imposta por Voldemort como apenas a sombra de um passado que lamentavelmente existiu também no mundo dos trouxas, e que jamais a veja como algo corriqueiro e aceitável. Espero que o preconceito deixe-o chocado, como qualquer outra maldade que possa ocorrer no mundo, e desejo profundamente que esse tipo horroroso de julgamento seja raro na sociedade que encontrar.
Proponho esse breve exercício de imaginação com um único intuito: refletir sobre o futuro leitor de Harry Potter, no universo no qual estará inserido. Certamente que todas as mudanças sociais e geopolíticas que o mundo sofrerá com o passar dos anos poderão mudar a forma como os futuros leitores verão a série. Há, porém, uma certeza – Harry Potter é eterno. Não é possível calcular quantas pessoas seguem iniciando a leitura da série, pela primeira vez ou não, dezoito anos após o seu lançamento inicial, no Reino Unido. A primeira obra de J.K. Rowling tem uma característica muito peculiar: embora não seja voltada unicamente para crianças, ela tem o poder de iniciar a garotada no mundo da leitura. Quem lê Harry Potter vai se encantar, e vai buscar em outros livros um prazer parecido. Ocorre que não é muito fácil encontrar a mesma magia em outras obras – daí o motivo de termos relido a série tantas vezes.
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O futuro leitor de Harry Potter vai se deparar com uma série de livros tão fantástica quanto a que eu encontrei quando iniciei a minha leitura da série, ainda que possa encará-la de maneira distinta. Harry Potter e a pedra filosofal foi o primeiro livro que eu li na vida – e devo tê-lo relido ao menos doze ou treze vezes, pelos meus cálculos. Houve um momento em que eu me considerava especialista em Harry Potter – dedicava minhas tardes às leituras da série, era capaz de encontrar trechos escondidos nos livros e debater questões pequenas. Conforme ia amadurecendo e sendo acompanhado por Harry Potter nesse processo, deixei de encarar a obra de maneira infantil e passei a observar melhor a maneira genial e muito sutil como J.K. Rowling trabalha algumas questões, como a sexualidade – há um grande personagem gay na série, sabia? –, a amizade, a busca pela igualdade entre todos e o fim do preconceito e da segregação. Jo traça um paralelo com eventos que as pessoas procuram esquecer, mas não deveriam. A meu ver, o fato de que a humanidade considerou algumas “raças – com todo o horror que essa palavra carrega – superiores às outras é algo que deve ser lembrado todos os dias, e repisado muitas vezes para que não aconteça nunca mais.
No final de 2014, me formei em jornalismo. Tenho de igual modo o imenso prazer de escrever para o Potterish desde 2010, bem como para outros sites, nos quais trato de vários assuntos, e honestamente não acredito que meu gosto pela leitura e pela escrita tenha vindo de um dom divino – foi algo desenvolvido durante a minha adolescência inteira. E se houve uma série de livros que teve papel crucial na elaboração do meu espírito crítico, definitivamente foi Harry Potter. Esse poder, de não apenas criar gosto pela leitura, mas de transmitir valores e auxiliar na formação moral e no desenvolvimento do espírito crítico, é um aspecto que Harry Potter manterá para sempre. Se livros são companheiros para a vida toda, a nossa série é também uma amiga, e haverá de sê-lo também para muitos outros que virão depois de nós.

- Por Luiz Guilherme Boneto, do Potterish
Lindo texto não é?

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